CONCEITOS - ÍNDICE MUNICIPAL DE RISCO DE CHEIA
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Ocorrência Disaster – é uma ocorrência hidro-geomorfológica única (cheia/inundação ou movimento de massa em vertente), que cumpre os critérios da base de dados DISASTER, e está relacionada com uma localização espacial única e um período específico (Zêzere et al., 2014). A base de dados Disaster fornece informação detalhada sobre cada ocorrência Disaster, como o tipo de ocorrência, data de ocorrência, data de publicação dos jornais, local e número de danos humanos (mortos, feridos, desaparecidos, evacuados e desalojados).
Perigosidade a cheias – corresponde à probabilidade de ocorrência de uma cheia ou inundação com uma determinada gravidade, numa área definida e num intervalo de tempo. Neste estudo, a perigosidade a cheias considera a propensão espacial a inundações ou suscetibilidade a inundações (SUSC) e o índice de eventos meteorológicos (IEM) como um indicador da frequência temporal de precipitação desencadeante de cheias rápidas ou picos de escoamento associados a cheias progressivas.
A perigosidade (P) a cheias foi calculada da seguinte forma:
P = (SUSC x 0.9) + (IEM x 0.1)
Os pesos atribuídos ao SUSCF e ao IEM foram baseados na opinião de especialistas e validados com registos de ocorrências de cheias/inundações danosas (para mais informações consultar Santos et al., 2020). A cada município foi atribuído um valor de perigosidade a cheias, posteriormente normalizado para o intervalo [0-1].
Exposição – relaciona-se com os elementos em risco (população, propriedades, edifícios) que se localizam em áreas perigosas e que estão sujeitos a perdas potenciais. A avaliação da exposição a cheias a nível municipal baseou-se em três elementos expostos: população e rodovias, expressos nas variáveis densidade populacional (DP), densidade de rodovias (DR) por município em 2011; e o grau médio de impermeabilidade (GMI) calculado a partir da camada “grau de impermeabilização 2012”, disponível no portal do Serviço de Monitoramento Territorial da Copernicus (CLMS, 2012), representando o percentual de área impermeabilizada em 2012.
A exposição (E) a cheias por município foi calculada da seguinte forma:
Exposição = (DP x 0.1) + (DR x 0.8) + (GMI x 0.1)
Os pesos atribuídos à DP, DR e GMI foram testados de acordo com uma análise de sensibilidade baseada nos testes de confiabilidade Alfa de Cronbach e Lamdba-2. Os melhores resultados estatísticos foram combinados com a distribuição espacial dos resultados de exposição para selecionar a melhor combinação de ponderação com significância estatística e espacial (para mais informações consultar Santos et al., 2020).
A cada município foi atribuído um valor de exposição a movimentos de massa em vertentes, posteriormente normalizado para o intervalo [0-1].
Vulnerabilidade Social – é um conceito multidimensional e complexo relacionado com as características do indivíduo, mas também com as suas relações sociais e económicas, bem como ao meio físico e social onde o indivíduo está inserido. O conceito envolve também uma dimensão coletiva, que considera as características pré-existentes que influenciam na preparação, resposta e recuperação de desastres.
A avaliação da Vulnerabilidade Social (VS) considera duas dimensões - Criticidade e Capacidade de Suporte (Tavares et al. 2018). Na avaliação da criticidade para os municípios portugueses utilizaram-se 22 variáveis, agrupadas em sete grupos, representando dimensões distintas: apoio social, demografia, condições de habitação, economia, educação, habitação e saúde. O cálculo da Capacidade de Suporte ao nível municipal foi realizado com 12 variáveis agrupadas em quatro grupos distintos: economia, características dos edifícios, recursos da proteção civil e instalações de saúde. Após o cálculo da Criticidade e da Capacidade de Suporte, o índice composto de Vulnerabilidade Social (VS) foi calculado usando a seguinte equação:
Vulnerabilidade Social = Criticidade × (1- Capacidade de Suporte)
O resultado da vulnerabilidade social por município foi normalizado entre 0 e 1.
A vulnerabilidade às cheias baseou-se na vulnerabilidade social por município porque se assume que as variáveis sociais são mais importantes durante a recuperação de desastres, nomeadamente os que são causados por perigos mais extensivos em termos espaciais como é o caso das cheias.
Índice municipal de risco de cheia (IMRC) – o risco de cheia corresponde à probabilidade de ocorrência de uma cheia que causa danos diretos e indiretos na população, propriedades e infraestruturas.
Expressar o risco de cheia no nível municipal como um índice (IMRIV) implica a perda de uma relação probabilística direta entre os processos físicos em um determinado elemento exposto com uma determinada vulnerabilidade.
O IMRC é uma medida adimensional e comparável do risco de cheia, calculada para o nível municipal e válida para todo o território do município. O IMRC é calculado com uma equação multiplicativa onde cada uma das dimensões de risco é igualmente ponderada, como é o caso da metodologia INFORM:
IMRIV = (Perigosidadeâ…“) x (Exposiçãoâ…“) x (Vulnerabilidade Socialâ…“)
Este índice permite comparar os resultados entre municípios e classificá-los de acordo com cada dimensão de risco de cheia. As três dimensões do risco correspondem a forçadores do risco de cheia, normalizados entre 0 (muito baixo) e 1 (muito elevado).
Teoricamente, o IMRC varia entre 0 (ou próximo de 0, pois a P, E ou VF nunca recebem o valor 0, baixo risco) e 1 (risco muito alto). A exponenciação da P, E e VF para 1/3 permite ampliar a distribuição dos scores do IMRC, destacando as diferenças entre os municípios, principalmente aqueles com scores mais baixos. Ao mesmo tempo, mantém a classificação / hierarquia do município e o intervalo teórico de 0 a 1.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Pereira, S.; Santos, P.P.; Zêzere, J.L.; Tavares, A.O.; Garcia, R.A.C.; Oliveira, S.C. (2020) A landslide risk index for municipal land use planning in Portugal. Science of The Total Environment, Volume 735, 15 September 2020, 139463. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.139463
Santos, P.P.; Pereira, S.; Zêzere, J.L.; Tavares, A.O.; Reis, E.; Garcia, R.A.C.; Oliveira, S.C. (2020). A comprehensive approach to understanding flood risk drivers at the municipal level. Journal of Environmental Management, Volume 260, 15 April 2020, 110127.https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2020.110127.
Tavares, A.O., Barros, J.L., Mendes, J.M., Santos, P.P., Pereira, S., 2018. Decennial comparison of changes in social vulnerability: a municipal analysis in support of risk management. Int. J. Disaster Risk Reduct. 31, 679–690. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2212420918303728
Zêzere, J. L., Pereira, S., Tavares, A.O., Bateira, C., Trigo, R.M., Quaresma, I., Santos, P.P., Santos, M., Verde, J., 2014. Disaster: a GIS database on hydrogeomorphologic disasters in Portugal. Nat. Hazards 72, 503–532. https://doi.org/10.1007/s11069-013-1018-y.
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